Exposição Individual de Bata
de 07 a 30 de Novembro
Os Sentimentos das Mãos
As mãos são as chaves que abrem o caminho para os sonhos de Bata.
Este artista revela-nos como esse processo acontece, em particular nas suas vivências. Ele segreda-nos que nos momentos mais sombrios da sua vida, escutou, por assim dizer, a mensagem que as suas mãos lhe transmitiam. Aconteceu-lhe, ainda na juventude, sentir falta de comida. E as mãos disseram-lhe: “Pega na enxada e vai cultivar, rapaz!”. E, obedecendo ao repto, as mãos, em cumplicidade diária, lá ajudaram o Bata a vencer a fome.
Tempos depois, Bata emigrou para o ofício de pedreiro. Ele é um autodidacta que, com o apoio e a amizade de Justino Sambo, aprendeu e consolidou os seus conhecimentos na arte da escultura. Neste ofício, as mãos souberam ajudar o seu dono a ganhar a vida, construindo casas, compondo lugares, talhando madeira de sândalo, ajustando espaços, alegrando famílias, etc.
Bata juntou panelas velhas, chaleiras, despojos informáticos, metais variados e outros utensílios domésticos já sem importância para as famílias. O artista pegou naqueles materiais e representou figuras humanas em composições artísticas, como O Guitarrista que Esqueceu a Viola no Comboio; com latas velhas e pás obsoletas Bata ergueu Fotcholuana; o que para muitos pode constituir desperdício Bata transformou em objectos de luxo, mostrando-nos O Paraíso; A Cidade é uma Selva é outra obra do artista; Amizade, Espanto e Sonho Voando são também títulos de outras obras que configuram o imaginário criativo deste artista multifacetado; A Princesa e O Mineiro são figuras criadas pelo talento do Mestre Bata. As minhas Aventuras é uma mistura de materiais com os quais Bata ergue um painel, uma constelação de ferros, plásticos, fios, arames e tubos, um universo incontável de materiais. Até uma sola de sapato não desmente as aventuras que Bata teve de empreender para construir uma obra, onde é inegável a dedicação, irmanada com a cumplicidade permanente das suas laboriosas mãos.
Não cabem aqui todas obras. E as palavras escasseiam para erguer este mundo que está sempre a reciclar, a devolver às nossas mãos, a nossa própria utilidade. Bata convida-nos a prestar atenção, a confiarmos nas nossas mãos e, sobretudo, a celebrar a fortuna que pode ser construída por elas.
Ele chama particular atenção aos mais novos, que se queixam da falta de oportunidades na vida: “Os jovens andam agitados e não prestam atenção à energia, à potência que eles próprios possuem”. E nesta vertente Bata tem razão, os jovens precisam, como disse o poeta, de «ocupar a sensibilidade vadia» e estar em sintonia, atentos ao Sentimentos das Mãos.
Celso Muianga